INÁCIOFARMACEUTICO

sexta-feira, 3 de abril de 2015

População brasileira aprova prescrição farmacêutica

Após um ano da publicação da resolução que autorizou o farmacêutico a prescrever medicamentos, nota-se crescimento significativo na confiança deste profissional.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ) descobriu que 72% da população aprova a prescrição farmacêutica. Esta é segunda edição do estudo. A primeira foi concretizada em agosto de 2013, mês de aprovação da resolução 586 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que autorizou o farmacêutico a prescrever alguns tipos de medicamentos. Na época, o resultado foi alarmante, já que apenas 39% aprovavam a indicação realizada por um farmacêutico. Os especialistas do setor afirmam que esse substancial crescimento de 33 pontos percentuais no universo dos que acreditam na prescrição se deva aos debates sobre o tema nos principais veículos de imprensa do País e à aprovação da Lei Federal 13.021, de agosto de 2014, que garante a presença do farmacêutico nas farmácias e ainda conceitua o local como estabelecimento de saúde. Isso contribuiu para que a aprovação da prescrição farmacêutica crescesse exponencialmente no seu primeiro ano de regulamentação. Os objetivos da segunda edição do estudo são apreender as percepções da população brasileira frente à regulamentação da prescrição farmacêutica por meio da resolução 586, estimar a prevalência de aceitação do farmacêutico como prescritor de medicamentos em estabelecimentos farmacêuticos e visualizar as possíveis mudanças na opinião pública sobre o trabalho do farmacêutico no Brasil nos últimos 12 meses. Outro aspecto abordado foi a possibilidade de a prescrição realizada por farmacêuticos em farmácias e drogarias facilitar o tratamento de sintomas simples de saúde. Em 2013, apenas 35% da população via na prescrição farmacêutica uma forma de facilitar tratamentos de sintomas simples. Em 2014, o índice saltou para 63%. As capitais onde essa crença é maior estão nas regiões Sul e Sudeste: São Paulo (SP), com 89%; Curitiba (PR), com 87%; e Florianópolis (SC), com 82%. Já a confiança do brasileiro nesse tipo de prescrição, em 2013, era de 42% e, em 2014, o índice subiu para 72%. As capitais em que os entrevistados mais confiam na prescrição farmacêutica foram São Paulo (SP), Manaus (AM) e Florianópolis (SC), com 85%; seguidas de Goiânia (GO) e Curitiba (PR), com 83%; e Brasília (DF), com 81%. As capitais em que menos se confia na prescrição são Maceió (AL), com 51%; Rio de Janeiro (RJ), com 52%; e João Pessoa (PA), com 55%. “Nessa segunda edição do estudo, é evidente o resultado do trabalho realizado pelas entidades e pelo ICTQ de esclarecimentos sobre o real papel do farmacêutico junto à sociedade. Sentimos que nossa missão de valorizar esse profissional dentro dos estabelecimentos está sendo cumprida quando visualizamos a sociedade confiando mais no farmacêutico como prescritor”, ressalta o diretor de Pesquisa do ICTQ, Vinícius de Andrade. População mais informada A aceitação do farmacêutico como prescritor aumentou por parte da população. De acordo com a opinião do presidente do Conselho Científico do ICTQ e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Raposo de Mello, esta aceitação ocorreu em maior escala nas praças em que o farmacêutico é bem-sucedido e onde há visibilidade de sua atuação. “Uma grande parte dos usuários desconhece o papel do farmacêutico à frente da dispensação e, por isto, se recusa a ser atendido por uma pessoa que eles consideram leiga, sem formação. À medida que ele é reconhecido como profissional de competência para a prescrição, ele é aceito”, dispara. Ele acredita que esse é o melhor custo-benefício para a farmácia, que deve manter esse profissional na linha de frente para prestar atendimento de qualidade à população. Para o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João, após a publicação da resolução 586, os profissionais passaram a se inteirar do teor do artigo e a população começou a se familiarizar com a atuação do farmacêutico e seus inúmeros benefícios. “Para levar à população as informações sobre as atribuições clínicas do farmacêutico, os representantes do CFF têm ocupado alguns espaços na mídia de massa dos meios de comunicação e ações do próprio CFF”, fala o presidente. O trabalho de conscientização da população é gradativo e somente vai apresentar resultado em longo prazo”, alerta. Ele defende que é preciso mudar a cultura de que farmácia é um simples comércio. O que diz a legislação De acordo com a Lei Federal 13.021/14, farmácia é unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva e deve estar sob a responsabilidade de um farmacêutico. “O povo brasileiro, infelizmente, ainda não reconhece esse estabelecimento como unidade de saúde. A partir do momento em que isso começar a acontecer, o farmacêutico terá condições de prestar diferentes serviços de saúde à população”, ressalta o presidente. A resolução 586 estabelece a prescrição farmacêutica com diferentes níveis de complexidade. Os farmacêuticos têm uma formação específica em matérias que permitem um conhecimento adequado sobre o medicamento, desde o seu desenvolvimento, indicação, mecanismos de ação, doses, características farmacocinéticas e condições seguras de uso. Jorge João explica que, em face de esses diferentes níveis de complexidade da prescrição farmacêutica e à constante evolução do arsenal terapêutico, é necessário desenvolver ações que aperfeiçoem a sua qualificação para prescrever. A resolução recomenda quais são os conteúdos mínimos desejáveis para a qualificação do farmacêutico que deseja assumir essa atribuição. Jorge João ressalta: “A prescrição é um ato e não está relacionada somente aos medicamentos.“ Imagem inicial Para o professor do ICTQ e consultor farmacêutico, Leonardo Doro Pires, quando o ICTQ realizou a primeira pesquisa, em agosto de 2013, os debates em torno do tema prescrição farmacêutica eram restritos aos profissionais que atuavam na área. A população leiga ainda tinha em mente a imagem de um passado, não muito distante, em que muitos profissionais farmacêuticos sujeitavam-se, por uma baixa remuneração, a assumir a responsabilidade técnica em farmácias sem efetivamente comparecer ao estabelecimento para exercer a profissão. “Em nossa análise, esse período deixou uma cicatriz profunda na farmácia brasileira e contribuiu para o distanciamento entre o farmacêutico e a população, o que foi externado, num primeiro momento, na forma de desaprovação da prescrição farmacêutica por parte dos entrevistados na pesquisa de 2013”, lembra ele. A partir da primeira edição do estudo, com a veiculação do tema na imprensa nacional, com a mudança de estratégia de muitas farmácias que passaram por uma reformulação de seus layouts de loja e pelo oferecimento sistematizado de serviços farmacêuticos e, principalmente, com o engajamento por parte dos farmacêuticos atuantes no varejo de medicamentos, a resposta da população foi imediata: a aprovação da prescrição farmacêutica cresceu, o que demonstra, para Pires, que a comunidade já vem usufruindo a farmácia como um estabelecimento de atenção primária à saúde. A profissão farmacêutica e a população já estão colhendo os frutos da valorização do profissional, em que o farmacêutico cada vez mais deixa de ser visto como um dispensador do medicamento e assume um importante papel de prestador de serviços em saúde. O ato em si O presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF-RS), Roberto Canquerini, explica que a prescrição farmacêutica é o ato de registrar, de documentar, a orientação realizada pelo farmacêutico nos diversos locais onde ele atua, principalmente em drogarias e farmácias. Esse registro poderá contemplar a prescrição de medicamentos. Neste ano, ocorreram várias manifestações de entidades farmacêuticas e médicas na mídia, tornando público o debate e, assim, mostrando às pessoas uma alternativa para acessar esse profissional de saúde, que também é capaz de, por exemplo, prescrever medicamentos isentos de prescrição ou de prescrever orientações sobre o uso correto de medicamentos de uso contínuo. “Essa questão é muito relevante, pois, no atual modelo de saúde brasileiro, é mais fácil acessar o farmacêutico que trabalha na farmácia do que o médico em seu consultório, seja pela dificuldade de agenda ou para pagamento da consulta”, ressalta Canquerini. Além disso, as entidades farmacêuticas vêm divulgando à sociedade os benefícios da atuação do farmacêutico na farmácia à população. “Em paralelo, alguns Conselhos de Farmácia, como o CRF-RS, vêm realizando ações sociais, conta Canquerini. Índices alinhados Segundo a vice-presidente do CRF-GO, Lorena Baía, coincidentemente, uma pesquisa divulgada pelo instituto alemão GFK Verein classificou o nível de confiança da população brasileira no profissional farmacêutico em 76%, um índice muito próximo do verificado pelo ICTQ na aprovação da prescrição farmacêutica. “Acredito que os dois índices revelam que a sociedade passa a ter uma percepção do papel do farmacêutico como profissional de saúde que está em uma das pontas do serviço, prestando atendimento à população, seja em farmácias, hospitais, postos de saúde, laboratórios e em programas de atenção básica”, diz. Essa percepção é fruto de uma luta que uniu principalmente, neste último ano, todas as entidades profissionais e teve grande repercussão na sociedade. Não foi à toa que se conseguiu aprovar a lei que transforma a farmácia em estabelecimento de saúde com a presença obrigatória do profissional farmacêutico: “Isso foi possível graças à luta incessante da categoria, mas também de uma mudança de qualidade na visão que todos têm da nossa profissão. Estima-se que cerca de 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos inadequadamente e que, aproximadamente, 50% dos usuários não os utilizam corretamente”, alerta ela. A figura do farmacêutico prescritor de medicamentos isentos de prescrição, se responsabilizando por orientações corretas, bem como a exigência da prestação de assistência farmacêutica durante todo o tempo de funcionamento da farmácia reafirmam direitos básicos do cidadão e introduzem a farmácia no papel de estabelecimento sanitário irradiador de noções básicas de cuidados da saúde e de promoção do uso racional de medicamentos. Lorena afirma que o CRF-GO desenvolveu algumas ações para fomentar a prescrição farmacêutica, como a criação da Comissão Assessora de Serviços Clínicos e Prescrição Farmacêutica, envolvendo farmacêuticos que já desenvolvem ações em seu âmbito profissional, conteúdo no site e palestras. Percepção da população Com a regulamentação, o farmacêutico deu início à prática do ato de prescrição e com isso a população pode perceber a importância deste serviço, que aumenta a segurança no uso de medicamentos isentos de prescrição médica e contribui para o uso racional destes produtos. “Além disso, os esclarecimentos realizados nos diversos veículos de comunicação e a aprovação da Lei 13.021/14 que transforma a farmácia em estabelecimento prestador de serviços de saúde também contribuíram para a melhora desse dado. Quando a resolução foi publicada, em 2013, os cidadãos não conheciam e não entendiam o que era a prescrição farmacêutica, portanto, a tendência era um baixo índice de aprovação”, fala o presidente do CRF-SP, Pedro Menegasso. O CRF-SP, para esclarecer a população sobre a prescrição farmacêutica, apoiou a produção de um documentário que tem sido exibido na TV Cultura desde fevereiro de 2014 sobre o tema. Também realizou cursos sobre prescrição farmacêutica, que são implementados na capital e interior do estado. “Além, disso foi criada uma área no portal do CRF-SP com informações relevantes, notícias, orientações técnicas e materiais importantes sobre a prescrição farmacêutica, inclusive contendo um modelo de receita que pode ser utilizado pelo profissional”, destaca Menegasso. Já para o presidente do CRF-RJ, Marcus Athila, desde que o tema alcançou um maior destaque na mídia, a população passou a avaliar de uma forma mais efetiva todos os benefícios advindos desse ato, que poderiam contribuir para a sua saúde com o melhor uso dos medicamentos. “Esses pontos fizeram com que a população tivesse a convicção de que, dentro de um cenário caótico do sistema de saúde brasileiro, muitos benefícios ela receberia dos atos desse profissional”, acredita. Assim, ele avalia a pesquisa do ICTQ e ressalta que o CRF-RJ acredita na prescrição farmacêutica como um grande marco profissional, por este motivo preparou um conjunto de ações para capacitar e estimular a prática, entre elas, os cursos de capacitação, e lançará no segundo semestre um programa de especialização em farmácia clínica com ênfase em prescrição. A orientação na prática A prescrição farmacêutica feita da forma ideal ainda pode estar distante da realidade da maioria dos estabelecimentos, mas é fato que os profissionais comprometidos estão buscando a capacitação com o objetivo de favorecer a população, principalmente de cidades menores e fora dos grandes centros urbanos. A farmacêutica da Farmácia BioFarma, de Anápolis (GO), Lilian Rezende Faleiro, acha que a prescrição farmacêutica, feita da maneira correta, é muito importante para a população até mesmo pelo difícil acesso aos médicos. Mas a drogaria atualmente não é utilizada da forma correta porque é um comércio e não um estabelecimento de saúde. “Costumo receitar medicamentos isentos de prescrição. A maioria aceita muito bem. As queixas mais recorrentes são gripe, resfriado e virose”, fala ela. A farmácia tem um receituário próprio para isso. No entanto, as pessoas que chegam procurando o farmacêutico são minoria ainda. Já a farmacêutica da Drogaria Silver, de Anápolis (GO), Kátia Nara Alves Silva, critica a saúde pública no Brasil. Ela diz que há muita procura por parte das pessoas em sua farmácia e ela faz a prescrição geralmente para problemas como dores de cabeça, de dente e de garganta. “Faço acompanhamento posterior para clientes cadastrados na loja, mas há os que buscam a orientação uma vez e nunca voltam. Aqui na cidade, a primeira opção é pelo farmacêutico, sendo o médico a segunda opção por causa do preço e da demora na consulta. A população confia no farmacêutico, principalmente quando se fideliza o cliente. Eu vivo isso”, diz a farmacêutica. Facilitador notado Um ano após publicação da resolução 586, a maioria dos brasileiros passa a ver que prescrição realizada por farmacêuticos em farmácias e drogarias pode facilitar no tratamento de sintomas simples de saúde. Na pesquisa do ICTQ realizada em 2014, 63% da população vê na prescrição farmacêutica uma forma de facilitar tratamentos de sintomas simples. “As condições precárias no atendimento em algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS) vêm canalizando, cada vez mais, a demanda de casos de baixa complexidade para os hospitais brasileiros, contribuindo para a superlotação dos mesmos e ao oferecimento de serviços de baixíssima qualidade. O resultado desta pesquisa realizada pelo ICTQ mostra que a população está acordando para o fato de que a farmácia é o ponto de atendimento à saúde mais acessível e menos burocratizado”, fala Pires, professor do ICTQ. Com a ineficiência do Sistema Único de Saúde brasileiro, que em tese possui o princípio constitucional da universalidade de acesso, grande parte da população enfrenta muita dificuldade para usufruir a atenção básica formal ou precisa recorrer a um plano de saúde suplementar para ter esse serviço disponível. De acordo com o Censo Demográfico Farmacêutico do ICTQ, existem, no Brasil, aproximadamente de 76.483 mil farmácias e drogarias. “Com toda essa capilaridade, me parece óbvio que precisamos utilizar essa estrutura das farmácias para lubrificar as portas da assistência básica e colocar definitivamente a farmácia e o farmacêutico como agentes de intervenção primária na saúde. Em definitivo, a Lei 13.021 dá o primeiro passo nessa direção”, declara. De acordo com Andrade, do ICTQ, a confiança na prescrição realizada por um farmacêutico nas drogarias e farmácias do País cresceu 30 pontos percentuais desde que a resolução 586 do CFF foi aprovada.“Além do maior esclarecimento da população sobre os procedimentos que permeiam a prescrição farmacêutica, temos de ressaltar que a confiança na prescrição farmacêutica aumentou devido à adoção da postura de protagonismo, por parte dos profissionais farmacêuticos, quando se fala de atenção primária à saúde”, esclarece Andrade. Esses profissionais já perceberam que quanto maior for a prática de um enfoque centrado no paciente e no estabelecimento de uma relação terapêutica, melhor será a qualidade do serviço prestado à população. O farmacêutico está mostrando para a sociedade que o principal fator nessa relação é o compromisso a ser firmado na obtenção de resultados terapêuticos concretos de forma sistemática, contínua e documentada, visando sempre melhorar a qualidade de vida do paciente. “A percepção por parte da população de que a presença do farmacêutico na farmácia é muito importante é uma consequência da busca por qualificação e do trabalho duro destes profissionais, que vestiram a camisa da saúde pública brasileira, antes mesmo de qualquer tipo de regulação nesse sentido”, acredita. O professor Pires acrescenta que a prescrição farmacêutica irá mudar o cenário atual. “Presenciaremos uma alteração no foco de atuação do varejo farmacêutico brasileiro, veremos uma migração da atual estratégia de comercialização de medicamentos, com foco na liderança por custo, para a adoção de uma estratégia de diferenciação, em que a farmácia irá assumir a condição de prestadora de serviços de saúde, com consequente alavancagem na percepção do status quo do profissional farmacêutico, por parte população brasileira.” Ele acredita que o mercado finalmente está entendendo que é possível conciliar sucesso empresarial com prestação de serviço farmacêutico de qualidade. O submundo do uso irracional de medicamentos, já fomentado por muitos estabelecimentos, está ficando no passado. Chegou a hora de a farmácia, como negócio, ser estruturada como um agente de mudança da qualidade de vida da população. Estes estabelecimentos não oferecerão apenas produtos, mas, sobretudo, serviços que contribuirão para a sustentabilidade do negócio. Fonte:http://www.guiadafarmacia.com.br/263-out-14-prescricao-farmaceutica/8667-populacao-brasileira-aprova-prescricao-farmaceutica

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