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terça-feira, 21 de abril de 2015

BRASÍLIA 55

Brasília é organizada e parecida com cidade sueca, diz jornalista europeu

Vindo da Suécia, Henrik Jönsson diz que 'se sentiu em casa' na capital.

Ele afirma que Vällingby, subúrbio de Estocolmo, influenciou Lúcio Costa.

“Surpreso e em casa”. Foi assim que o jornalista sueco Henrik Jönsson se sentiu ao desembarcar pela primeira vez em Brasília, em 2002, para cobrir as eleições presidenciais. Entre passeios pelo Plano Piloto, onde ficou hospedado, e por outras regiões do Distrito Federal, ele encontrou semelhanças entre a capital e a cidade de Vällingby, no subúrbio de Estocolmo. A experiência vivida por duas semanas rendeu o livro “Fantasy island – brave new heart of Brazil” – "Ilha da fantasia – o novo e corajoso coração do Brasil", em tradução livre.

“No segundo turno, pouco antes do Lula se eleger, tive que ir para a capital a trabalho. Eu não sabia nada sobre a cidade, só sabia que era no formato de um avião. Para mim, o Brasil era só que nem o Rio de Janeiro. Conhecia ainda São Paulo e Manaus. Aí cheguei em Brasília, que é mais Suécia do que a própria Suécia. Não podia imaginar que o Brasil pudesse ter uma capital tão organizada. Você não espera isso. Fiz uma série de reportagens, que tiveram bastante sucesso, e depois resolvi fazer o livro.”

Inspiração sueca

Morador do Rio de Janeiro desde 2002 e casado com uma brasileira, Jönsson afirma que estava acostumado com as favelas e a intensa movimentação da capital carioca, mas que ao chegar em Brasília se lembrou de Vällingby. A cidade sueca foi inaugurada em 1954 e inspirou o urbanista Lúcio Costa para planejar a nova sede do governo brasileiro, segundo o jornalista.
“Foi na mesma época que criaram as duas cidades. Brasil e Suécia eram mais modernistas porque não tinham que se preocupar tanto com os efeitos negativos da 2ª Guerra Mundial. As pessoas estavam livres para criar e pensar. Sven Markelius, que fez Vällingby, é o nosso Lúcio Costa. Foi uma alegria quando percebi isso... poder andar em uma superquadra que tem muito espaço, é verde e quieta. E em Vällingby tudo também é setorizado, um lugar para cada coisa. Tem ainda níveis e travessias parecidos.”

Um estranhamento curioso do jornalista foi a pouca quantidade de calçadas em Brasília. “Não tinha onde andava. Mas depois que aprendi a andar de carro, ficou muito fácil.” Além das semelhanças nas áreas comuns, Jönsson diz que Vällingby conta com muito concreto na arquitetura de prédios, como as obras de Oscar Niemeyer.
“Agora, talvez a maior diferença é que lá todo mundo usa o metrô no dia a dia, do mais rico ao mais pobre. Ela tem ainda garagens subterrâneas, então você não vê tantos carros nas ruas. É impressionante como os carros tomaram conta de Brasília.”

O resto [área fora do Plano Piloto] parece faroeste. Não conseguia entender como o governo deixou essas favelas todas tão perto da capital. A gente não tem essa cultura. Temos a política de incluir todo mundo. Foi uma coisa triste de descobrir. Tem que ser uma Brasília só, unificada" Henrik Jönsson, jornalista sueco

Choque social

A comparação feita pelo jornalista ocorre usando o Plano Piloto como referência, mas ele diz saber que o local é exceção no DF. "O resto parece faroeste. Não conseguia entender como o governo deixou essas favelas todas tão perto da capital. A gente não tem essa cultura. Temos a política de incluir todo mundo. Foi uma coisa triste de descobrir. Tem que ser uma Brasília só, unificada.”

Em uma das visitas ao redor do Plano Piloto, Jönsson foi para São Sebastião, acompanhou uma empregada doméstica do local por um dia e se chocou com a realidade. “Encontrei 100 % de abandono. É terra de ninguém. Todos os alunos da escola tinham medo de voltar para casa com medo das gangues. Voltei de ônibus e a gangue estava lá, armada no ponto. A polícia viu e não fez nada. Já vi policiais tomando cafezinho e conversando na casa de bandidos.”
Para escrever o livro, Jönsson entrevistou também religiosos, políticos e até prostitutas de luxo.

“Queria mostrar altos e baixos. O interessante da Luára, uma com a qual conversei, é que ela me falou que os políticos não queriam só sexo. Eles eram carentes e queriam ter acompanhantes para sair junto para o cinema ou só para conversar, por exemplo. Na Suécia, uma hora é uma hora. Depois a mulher nem olha na tua cara. Aqui é diferente.”

Benefícios para políticos

Com mais vivência na capital do Brasil, Jönsson questiona o custo-benefício da classe política do país.

“Eles não fazem muita coisa, é um absurdo. Na Suécia, vivem em um apartamento de 12 metros quadrados e não têm direitos a gasolina e avião. Isso foi difícil de entender, viu?”

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